MEIO SÉCULO DE PAIXÃO: Nos Jerónimos

Com o 356 "Notchback" durante uma complementar disputada em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, a contar para o Critério de Iniciados de 1962. Repare-se na enorme multidão que compareceu no local para assistir à prova e cuja segurança seria, no mínimo , algo discutível.

Os Meus Porsche 356

Tudo começou com o invulgar Porsche 356 B "Notchback" matrícula BA-48-22.

Fui comprá-lo à Guérin em fins de 1961, com um cheque em branco assinado pelo meu Pai. Foi o senhor Duarte Ramos Jorge, administrador da empresa, quem mo vendeu pessoalmente. Quando lhe pedi um desconto, o senhor apercebeu-se da minha ingenuidade e ofereceu-me um magnífico rádio Blaupunkt. O meu primeiro Porsche 356 era cinzento metalizado. Bonito, sem dúvida, mas...

Eu pretendia um Coupé (em vez do "Notchback") com uma cor diferente, mas foi-nos dito ( ao meu querido primo Fernando, que "alinhavou" o negócio, e a mim) que só dentro de alguns meses estariam disponíveis carros desse tipo.

Decidi então ficar com o "Notchback", um 1600 Super com 75 cavalos e que tinha apenas uma grelha no capot do motor (T5). Com ele fiz, sem quaisquer modificações, o Critério de Iniciados de 1962, organizado pelo Clube Arte e Sport, tendo terminado no 2º lugar absoluto apesar de ter vencido a maioria das provas. mas como falhei uma, contou a média.

Conheci entretanto o José Lampreia, que tinha um Alfa Romeo Giulietta Sprint Veloce, com transformação Conrero, e que estava pintado a duas cores: creme por baixo e vermelho em cima. Foi o suficiente para que eu quisesse fazer o mesmo ao Porsche, que passou a ser preto no corpo e vermelho na capota. Era esquisito mas era único.

Em 1962 e 63 era frequente estes dois carros serem vistos à porta de conhecidas "casas de chá" da época, com nomes como "Comodoro", "Nina", "Bico Dourado", "A Carpa", etc. Pura coincidência, certamente.

O Zé Lampreia e eu fizemos com o "Notchback" a Taça de Ouro de 1962, organizada pelo Heitor de Morais, e que seria a primeira prova a abandonar o conceito de regularidades e "tacos" para se concentrar em troços especiais, rampas e circuitos. Partilhávamos alternadamente a condução e foi assim que acabei por fazer um troço de Sintra ao lado dele, onde já entráramos atrasados. Nunca sofri tanto em dias da minha vida! O grande Lampreia não deixava o Porsche andar a direito, aproveitando cada milímetro de asfalto, de berma a berma

O Alfa do Zé Lampreia estava a ficar velho e resolvemos então fazer negócio. O Zé ficou com o Porsche "Notchback" vermelho e preto, e eu recebi um novo Porsche 356 SC vermelho, matrícula AI-78-33, que chegou a Portugal juntamente com um carro idêntico destinado ao Américo Nunes.

O Lampreia pintou o carro todo de preto, instalou travões de disco na frente, e entregou a preparação do motor ao Jaime Rodrigues. Em consequência, o "Notchback" passou a andar bem mais que o meu novíssimo SC, e acabou por conquistar um brilhante 2º lugar no circuito de Montes Claros de 1964.

Na altura havia 4 Porsches na minha família. O meu irmão tinha um 356A Coupé branco, o meu primo Octávio conduzia um 356B 1600 Super T5 Cabrio e o meu primo Fernando tinha um outro "Notchback", um Super 90 T5 "signal red".

Actualmente tenho um Porsche 356 SC amarelo, matrícula FE-43-09, com o qual participei em todas as edições das 500 Milhas do ACP, na Le Mans Classics de 2010, e em muitas outros eventos de Clássicos, em Portugal e no estrangeiro.

Comecei com o Vasco Pinto Basto como "pendura", nos ralis, e ainda hoje fazemos provas juntos, formando aquela que será talvez a mais antiga equipa de sempre ainda em actividade nos Porsche 356.

E assim se cumprem 50 anos desta imensa paixão.

Nos Jerónimos

Sem comentários: